O centenário de José Cardoso Pires vai ser assinalado com um colóquio subordinado ao tema Escrever histórias, retratar Portugal, que terá lugar nesta quarta-feira no Auditório da Biblioteca Nacional de Portugal, a partir das 14h, com intervenções de académicos, escritores e especialistas.
José Cardoso Pires (1925-1998), considerado uma das figuras mais marcantes da literatura portuguesa do século XX, é amplamente reconhecido pela sua “escrita precisa, irónica e profundamente enraizada na realidade social e urbana do seu tempo”, refere a BNP em comunicado.
“A cidade de Lisboa ocupa um lugar central na sua obra – não apenas como cenário, mas como personagem literário. Foi nela que Cardoso Pires encontrou matéria para a sua anatomia da sociedade portuguesa. Uma cidade cheia de contrastes, onde convivem o poder e a marginalidade, a memória e a mudança”, acrescenta.
Obras como O Delfim (1968) e Balada da Praia dos Cães (1982) revelam “uma notável capacidade de observação do quotidiano, explorando o realismo como forma de denúncia e reflexão”.
“O seu realismo, porém, não se limitou a uma mera reprodução da realidade. Nos seus livros, encontramos um realismo crítico e experimental, onde a linguagem, o ponto de vista e a estrutura narrativa se tornam instrumentos de questionamento (do próprio realismo)”, continua o comunicado da BNP.
Os promotores do colóquio apontam os aspectos distintivos da obra de Cardoso Pires ressaltados pela crítica literária, nomeadamente a clareza e o rigor estilístico, associados a uma “escrita de precisão cirúrgica”; a ironia fina, que desmonta hipocrisias e máscaras sociais; e a dimensão ética do seu olhar, comprometido com a verdade e com a lucidez.
“Vários foram os críticos que sublinharam também a modernidade da sua narrativa, marcada por uma permanente experimentação formal e por uma consciência aguda da linguagem e do papel do escritor na sociedade”, sublinham.
O espólio de José Cardoso Pires, guardado no Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea da BNP, inclui versões manuscritas de várias obras, correspondência e documentação associada, totalizando 37 caixas, resultantes de doações feitas pelos herdeiros entre 2008 e 2013.
Entre os documentos encontram-se cinco versões de Lavagante, obra adaptada ao cinema por Mário Barroso, actualmente em exibição nos cinemas.
O programa do colóquio abre com uma intervenção de Ana Paula Arnaut sobre o tema José Cardoso Pires: o escritor como ‘animal incómodo’ e os dinossauros excelentíssimos, a que se segue uma apresentação do espólio do escritor.
António Araújo falará depois sobre a Arqueologia do Marialva, e Carina Infante do Carmo vai debruçar-se sobre o tema A visita, de E Agora, José?: voltar à Casa da insónia fascista na Lisboa pós-Abril.
Depois de uma pausa, os trabalhos serão retomados com uma intervenção de Paula Mourão sobre José Cardoso Pires, Escrever histórias, retratar Portugal e o escritor Bruno Vieira Amaral revisitará o Integrado Marginal, que dá título à biografia que escreveu.
José Cardoso Pires: a Censura, a mão e a raiva, por Maria Fernanda de Abreu, Marialvas, cartilhas, olhares frios: José Cardoso Pires e Roger Vailland, por Pedro Mexia, e O Pires, longo amigo, por Clara Ferreira Alves, encerram o programa.
O colóquio procura, assim, revisitar o papel de José Cardoso Pires como observador crítico da sociedade portuguesa, reflectindo sobre a linguagem, a censura e o impacto literário do escritor, contribuindo para a divulgação e estudo do seu legado, quando se assinalam cem anos do seu nascimento.
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