Anúncio urgente: procura-se candidato de esquerda para concorrer à Presidência de pequeno país no sul da Europa.
Requisitos: gozar de ampla notoriedade pública junto do eleitorado com mais de sessenta anos, mas beneficiar de semelhante popularidade entre aqueles com menos de trinta. Evidenciar um percurso de compromisso inequívoco com a esquerda, mas também uma comprovada capacidade de captar votos ao centro, à direita e, se possível, na direita histriónica. Possuir excelentes dotes de comunicação, oral e escrita, adequados a apelar ao diálogo perante qualquer desafio e a exaltar, de forma clara e incisiva, os triunfos do povo português no domínio desportivo.
Demonstrar capacidade de liderança em altos cargos executivos, mas possuir também uma trajectória profissional sem máculas, escândalos ou escolhas passíveis de contestação. Qualquer associação, real ou concebível, com BES, TAP, EDP, PT, BNP, BANIF, SEF, AIMA, PS, BE, José Sócrates, Governos de António Costa, Angola, Lula, datacenters, submarinos, alojamento local, offshores, centros de exposições transfronteiriços, bandeiras coloridas e Kamala Harris será factor de eliminação imediata. Deve possuir ainda sólidos apoios partidários que não a/o inibam de assegurar a sua independência acima de qualquer suspeita.
Boa apresentação. Deve possuir um animal de estimação saudável, apoiar ostensivamente um pequeno clube de futebol e garantir o consentimento prévio da família para aparecer na capa de Caras com pijamas natalícios a condizer ainda este ano. Figurar como autor de um livro escrito em colaboração com um bolseiro precário de uma prestigiada universidade nacional será uma vantagem.
Valorizam-se também as credenciais académicas, ainda que não essenciais, e espera-se do candidato bom domínio do castelhano, francês e inglês. Como alternativa, aceita-se a aptidão para a improvisação adoptada de forma espontânea pela maioria dos portugueses nos meses de Verão. Conhecimentos de mandarim serão um factor diferenciador, embora deva evitar também qualquer associação a Macau, e muitos menos a qualquer casino ou tipo de jogo, remetendo essa associação para o pelouro exclusivo de outros atores da cena contemporânea nacional. Pensando bem, o melhor é esquecermos o mandarim por agora.
Funções: muito reduzidas. No período imediato, deve distribuir beijocas pelo país, estar apto a tirar milhares de milhões de selfies e fazer mais lives do que discussões num reality show da TVI. Caso alcance a presidência, poderá até desaparecer durante os primeiros meses e todos saudaremos um período de sossego após uma década de sobressalto mediático. Quando decidir voltar, espera-se apenas que force o Primeiro-Ministro a resolver os problemas do país, convença a direita parlamentar a esquecer a reforma constitucional, torpedeie a reforma laboral e que nos mantenha longe da guerra na Ucrânia e dos maus humores de Trump. É só isso!
O que oferecemos: uma esquerda orfã de candidatos aptos para o cargo, pronta a aceitar de braços abertos todos aqueles que se apresentem com melhores perspectivas de sucesso do que os actuais. Uma esquerda engajada e experiente, ainda que não exactamente unida. Dispomo-nos igualmente a investir com veemência contra todos aqueles que não apoiem a sua candidatura, e a manifestar a nossa inteira solidariedade quando alguns dos nossos camaradas revelarem aspectos constrangedores da sua vida pessoal.
Valorizamos a diversidade e garantimos igualdade de acesso a todas as fases do processo de recrutamento. Porém, à luz das mais recentes experiências eleitorais, continuaremos a seleccionar sobretudo candidatos que se encaixem no perfil tradicional dominante, provando que a inclusão é, acima de tudo, uma poderosa figura de estilo.
Entrada imediata.
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