Atleta com desafio olímpico na esgrima é impedida pelo IRN de competir por Portugal

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O desafio de Sofia Castro, 17 anos, natural de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, de disputar uma medalha olímpica por Portugal pode acabar nas gavetas da burocracia do Governo luso. Atleta da esgrima há uma década, a jovem vive há seis anos com a família em Mafra, na região metropolitana de Lisboa, treina diariamente e participa de competições da Federação Portuguesa de Esgrima, na modalidade sabre. Contudo, o Instituto dos Registros e do Notariado (IRN) tem sido uma pedra no meio do caminho da carreira de Sofia rumo às Olimpíadas.

A mãe da atleta, Elisa Kern Castro, brasileira, psicóloga, e o padrasto Vasco António Figueira, português, oficial da Marinha Mercante, são os grandes incentivadores da esgrimista e não veem a hora de a jovem obter a tão sonhada nacionalidade portuguesa, para que possa disputar o circuito europeu da modalidade representando Portugal e, futuramente, os Jogos Olímpicos.

Elisa afirma que seguiu todo o caminho que a lei determina e acionou o IRN com o pedido de naturalização da filha. “Mas nunca imaginei que fosse demorar tanto. Tivemos de entrar com um pedido de urgência para que Sofia não perdesse os eventos esportivos que somam pontos no ranking mundial, o que dará condições para que ela dispute uma vaga olímpica”, ressalta.

Para Sofia manter a forma e contar pontos no ranking mundial, Elisa está planejando ir ao Brasil com a filha para que ela participe do Campeonato Brasileiro da modalidade, custos e desgaste que seriam evitados se a jovem já estivesse engajada, com sua cidadania, na equipe de Portugal. “Ela é a primeira colocada na categoria espada da esgrima e tem, segundo os técnicos, amplas perspectivas de conquistar medalhas pelo país”, reforça a mãe.

Que acrescenta: “Sofia perdeu muitas oportunidades e está sendo extremamente prejudicada por ainda não ter a nacionalidade portuguesa. O clube Casa do Povo de Mafra, onde ela treina, enviou cartas e documentos ao IRN, mostrando a capacidade da atleta, e fizemos os contatos necessários e pedimos urgência, mas, infelizmente, o pedido foi negado”.

Silêncio no IRN

No entender da Elisa, o IRN está com os processos de nacionalidade completamente parados. “Essa situação começa a nos dar desespero, porque estávamos com a expectativa de que tudo se resolvesse em março passado, para que Sofia competisse no Campeonato Nacional Português, que é o que soma mais pontos no ranking, mas ela não pode participar”, destaca.

Padrasto da jovem, Vasco Figueira se diz indignado com a situação. “Quando vejo que as coisas em Portugal não funcionam como deveriam funcionar, é muito mal, pois pagamos impostos esperando pelo retorno dos serviços por parte do Estado. Eu me sinto envergonhado com o meu país”, admite. Procurado pelo PÚBLICO Brasil, o IRN não se manifestou.

Sofia Castro em uma das competições de esgrima: atleta quer representar Portugal nas Olimpíadas
Arquivo pessoal

Enquanto a burocracia emperra a vida de Sofia, o Governo corre para que a Assembleia da República avance, nesta quarta-feira (22/10), com a proposta que altera a Lei da Nacionalidade. Se aprovada, em vez de cinco, os cidadãos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) terão de completar sete anos de residência legal em Portugal para requerer a nacionalidade lusa. No caso dos demais estrangeiros, esse prazo dobrará, de cinco para 10 anos.

Desejo profissional

Sofia ainda acredita que tudo se resolverá a tempo de representar Portugal nos principais campeonatos de esgrima do mundo. E fala com a maturidade de uma adulta, ao lembrar que, desde muito pequena, quando visitava Portugal, já se identificava com o país.

“Meu padrasto português me conhece desde pequena, sabe que eu gosto muito do país. A minha família está aqui, os meus amigos estão aqui. Na esgrima, faz toda diferença para o atleta ter a nacionalidade. Quero continuar, apesar de ter perdido oportunidades, quero chegar mais longe e me profissionalizar”, diz.

A jovem reforça o seu compromisso com o esporte: “Farei o máximo possível na minha vida para alcançar os objetivos e defender Portugal”. Ela destaca que, não fosse o entrave imposto pelo IRN, poderia estar competindo pelo país mundo afora. “Se olharmos, por exemplo, para os atletas olímpicos, a maioria na esgrima é de atletas acima dos 20, 30 anos, mas eles começam a carreira entre os 17, 18 anos, que é a minha faixa de idade”, frisa.

Apesar de todos os percalços, a esgrimista encara o futuro com determinação: “Quero, com certeza, representar Portugal e participar de uma Olimpíada para demonstrar toda a minha paixão pelo esporte e pelo país”.

Técnico tem esperança

Na avaliação do técnico Luís Custódio, que trabalha com Sofia há seis anos, a dedicação da atleta nos treinamentos é exemplar, pois trata a sua atividade esportiva com seriedade e consciência, além de ser uma excelente aluna na escola. “O currículo da Sofia é fantástico, participou de Jogos Pan-americanos e adaptou-se rapidamente ao estilo sabre para a espada, que é praticado atualmente em Portugal”, afirma.

Nas provas realizada no ano passado na Espanha e na França e neste ano, na Polônia, a jovem teve excelente desempenho na sua modalidade. Sofia ainda foi a primeira colocada no torneio nacional, em Viana do Castelo, nos dias 21 e 22 de junho último, o que, para o treinador, é notável. “Ela é uma atleta com muita regularidade, séria e consciente de seu trabalho”, salienta.

Para Custódio, a impossibilidade da jovem de participar em competições nacionais na categoria individual, por falta de documento de nacionalidade, pode atrapalhar o desempenho dela. “É visível que, quando ela participa dos eventos esportivos da esgrima, o faz sempre com destaque. Portanto, é importante que a situação documental dela se resolva”, frisa ele, lembrando que a Federação de Ginástica tentou uma solução para o caso de Sofia junto ao IRN, mas não obteve êxito.

A não participação de Sofia em determinadas competições, segundo o treinador, acaba por ser desmotivadora, além de limitar o desenvolvimento da atleta. “Vamos fazer aquilo que depende de nós, vamos treiná-la a fim de estarmos preparados para que, quando o pedido de nacionalidade dela for aceito, ela esteja pronta para o que der e vier”, sublinha.

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