Brasileiro que teve família deportada de Portugal volta ao Brasil: “Por meus filhos”

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Há três semanas, o brasileiro Gustavo Corrêa Morais, 27 anos, viveu um dos piores dias de sua vida. Ele havia desembarcado em Lisboa, vindo de São Paulo, cheio de sonhos. Com visto de trabalho garantido, o paulistano tinha planejado por meses construir uma nova vida em Portugal. Em poucas horas, porém, o que era felicidade se transformou em pesadelo. A mulher dele e os dois filhos — um, de 7 anos, outro, de apenas 1 — foram barrados pelos agentes de imigração, detidos em uma sala e, quatro dias depois, deportados para o Brasil.

“Nunca imaginei que isso pudesse acontecer comigo”, diz Gustavo ao PÚBLICO Brasil. “Dali em diante, foi só sofrimento, muita tristeza por estar separado de minha família“, acrescenta. O rapaz entrou em depressão. Por mais que tentasse juntar forças para se manter de pé, a saudades dos filhos e da mulher, com quem está casado há 11 anos, lhe tirava dos eixos. Sem perspectiva de reunir novamente a família em Portugal, ele tomou a decisão de retornar para o Brasil nesta quinta-feira, 13 de novembro.

Para Gustavo, nada é maior do que estar junto da família. Nem o sonho de viver na Europa. “Agora, só quero abraçar meus filhos e minha mulher. E sinto muito por tê-los feito passar por tudo o que foram obrigados a viver durante os dias em que ficaram detidos no aeroporto. Eles não mereciam”, afirma. O trauma nos meninos foi tão grande, que a saúde deles está fragilizada. “Estão doentes. Por isso, mais do que nunca, preciso estar ao lado deles”, ressalta.

Gustavo sabe que será uma pedreira retornar para o Brasil. Antes de embarcar para Portugal, ele se demitiu do emprego e vendeu todo o patrimônio que havia amealhado. “Neste momento, minha família vive de um lado para outro, sem um lugar fixo, sem referência. Alguns dias, os meninos e minha mulher ficam na casa dos meus pais, em outros, vão para a casa de uma tia da minha esposa, depois, para a casa da avó dela. Isso não é justo com os três”, frisa.

O brasileiro destaca que chegou a hora de “juntar os cacos e reconstruir novamente a vida”, o que, segundo ele, não será a primeira vez. “Já enfrentamos muita dificuldade. Enfartei três vezes e sobrevivi. Perdemos nosso primeiro filho no oitavo mês de gestação da minha mulher, por isso, inclusive, somos tão apegados aos nossos dois meninos”, relata. “Além disso, eu e minha mulher somos jovens — ela também tem 27 anos. Temos uma vida pela frente. Não será todo o sofrimento que passei em Portugal que vai me manter de joelhos”, emenda.

Vítima de ódio

O paulistano conseguiu um visto de trabalho para Portugal com base em um contrato com uma empresa da construção civil que atua na região de Setúbal, com salário mensal de 1,4 mil euros. Apesar do emprego certo, os agentes do serviço de imigração consideraram que não havia meios suficientes de subsistência para a família em território luso.

Gustavo, quando desembarcou no aeroporto de Lisboa, tinha cerca de 3,5 mil euros que havia reservado para as despesas dos primeiros meses, uma vez que a família seria abrigada na casa de um amigo. A ideia era que, depois de ser atendido pela Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA), o que aconteceria em maio de 2026, ele pudesse pedir o reagrupamento familiar.

Durante o período em que a família do brasileiro ficou detida, o PÚBLICO Brasil tentou falar com representantes da polícia de fronteira, mas nunca houve respostas. “Eu não culpo ninguém, apesar de todo o sofrimento que passei. Foi mais um aprendizado. Portugal tem o direito de escolher quem quer receber em seu território. Eu esperava poder construir uma vida linda no país, que aprendi a admirar ouvindo as histórias de um tio português. Cultivei um sonho que não se realizou”, frisa.

O jovem lamenta, porém, o fato de ele e a família terem sofrido tantos ataques nas redes sociais quando o caso deles se tornou público. “Nunca vi tanto ódio. Percebi o quanto a sociedade está doente, muito fruto da polarização política que se vê em Portugal, no Brasil, nos Estados Unidos, em boa parte do mundo. Não há o mínimo de solidariedade nesse mundo virtual”, diz. Na vida real, contudo, ele afirma ter sido muito bem tratado em Portugal. “Recebi muito carinho e conforto de pessoas que conheci no curto período em que estive no país”, ressalta.

O rapaz também destaca o suporte que recebeu do Consulado do Brasil em Lisboa. “Tive apoio psicológico, o que ajudou a me manter de pé, e também orientação jurídica. Esse suporte me fortaleceu”, complementa.

Gustavo não descarta a possibilidade de retomar o sonho de viver na Europa. “Tenho um processo de pedido de cidadania italiana em andamento. Minha família por parte de mãe é toda italiana”, conta. “Mas, agora, só quero ficar com minha família, conseguir uma casa e um emprego. Já trabalhei com comércio exterior, administração de empresa e na área de saúde. Não me faltará oportunidade”, sublinha.

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