Da Mêda, um interessante e original “vinho-macaco”

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A um vinho base seco (sem açúcar residual), foi acrescentado mosto branco, na proporção de um terço, e foi essa parte que fermentou dentro da garrafa, com uma transformação total também desses açúcares. O resultado é um pét-nat seco como um carapau. É um ensaio (1000 garrafas) de um produtor novo para o engarrafamento (mas de uma família que já produz uvas há muito) e carrega a tradição da Mêda, com um olhar actual.

“É um palhete, segundo esta prática em que se punha um bocadinho de açúcar, neste caso sob a forma de grão de centeio, para lhe dar uma fermentada e o vinho ficar com mais energia”, conta Rui Carvalho, quarta geração da Família Carvalho Martins. Para além de se inspirar nessas bolhas do passado, o vinho foi baptizado de Luz da Beira, para homenagear Albano Beirão, “o homem-macaco” da Mêda.

Conta-nos Rui que, segundo os relatos da época — populares, mas também da imprensa —, o homem natural de “Aveloso, uma freguesia pobre das terras frias, na parte de granito” da Mêda, e que viveu “no final do século XIX, início do século XX”, costumava ter “ataques em que ganhava uma força sobre-humana” e se punha a andar sobre quatro apoios. Quando vinha a si, não se lembrava de nada. Trepava amiúde ao pelourinho que vemos no rótulo deste Luz da Beira Palhete 2024, mas o episódio mais mediático em que se envolveu foi quando escalou a Torre dos Clérigos, no Porto.

Nasce na Mêda, no Douro Superior, e reflecte a mistura de castas plantadas na Quinta Vale do Olmo, em solos de transição entre o xisto e o granito. Levou Rabigato, Esgana Cão, Códega, Malvasia Fina, Viosinho, Gouveio, Touriga Nacional, Touriga Francesa, Tinta Roriz e Tinto Cão. É certificado pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), ou seja, simplesmente como vinho (antigamente, vinho de mesa) — “é IVV, porque [mais] ninguém me aprovaria isto”.

“Isto” é um vinho completo, frutado — embora essa fruta não seja óbvia, é como se o nosso nariz andasse à procura de algo entre a fruta vermelha e a fruta de polpa branca —, com aroma a silvado também, uma belíssima acidez, bolhas a lembrar espumante e algum tanino. Tudo num embrulho original e “funky” — “um vinho-macaco” —, que, sem outra pretensão se não a da experimentação, cai bem, com ou sem comida.

Nós bebemo-lo como aperitivo, antes de um jantar-conversa n’O Mercado, restaurante que Sérgio Brás da Silva e a família dinamizam na “praça” da Mêda, mas imaginamo-lo bem com uma pizza simples ou uma massa de tomate seco, por exemplo.

O vinho é turvo porque as leveduras, uma vez terminada a fermentação alcoólica do tal mosto branco, viraram borra. É somente por isso. E as borras são fáceis de decantar. Refrigere o vinho por 24 horas antes de abrir a garrafa e está feito. Leve-o para o jantar de Natal com aquela malta que gosta de vinho (e de experimentar vinhos diferentes ).

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