De Cabeça erguida para um Natal à moda da serra

A chuva parecia não querer dar tréguas, mas quando há toda uma aldeia unida e focada num só propósito, a vontade comum resiste a todas as intempéries. Em várias portas, as coroas estavam já afixadas e, nas fitas que decoram as ruas, não faltavam enfeites em forma de sino e de estrela. Tudo feito à mão pelas gentes da terra e com aquilo que a montanha dá —​ ramos de pinheiro, folhas secas, caroços de espigas de milha e fios de lã. Ao início da tarde desta sexta-feira, já havia muito pouco para fazer em Cabeça, pequena localidade da Serra da Estrela que, nesta altura do ano, se transforma em Aldeia Natal. O programa arranca este sábado e estende-se até ao primeiro dia do novo ano. Todos estão convidados, menos o Pai Natal.

“Aqui, vive-se o Natal do menino Jesus. Sem ele não havia Natal”, argumenta Luísa Dias, habitante de Cabeça a quem cabe, todos os anos e com a ajuda de José Marques, idealizar as decorações e enfeites criam um ambiente de magia nesta Aldeia de Montanha. “Todos os anos a decoração é diferente”, assegurava Luísa, ao mesmo tempo que ia decorando a mesa de consoada que, anualmente, embeleza a casa pertencente à Assembleia de Compartes dos Baldios de Cabeça.

Lá fora, os seus vizinhos iam decorando as ombreiras das portas e janelas com fitas feitas a partir das ramagens que haviam sido apanhadas há poucos dias na montanha. “Os [materiais] secos são apanhados com mais antecedência, os verdes é que guardamos mais para próximo”, contava, por seu turno, José Marques.

Preparados, e à espera dos visitantes, estão também os quase 20 pontos de venda de petiscos, artesanato e produtos locais. Queijos, enchidos, mel e compotas, são algumas das tentações que preenchem as bancas das lojinhas instaladas nas próprias casas dos habitantes de Cabeça.

Durante as próximas semanas, irão fazer concorrência ao café da aldeia, o Café Dias, mas o seu proprietário não se importa. “O movimento dá para todos”, confessava António Dias.

Oficinas, passeios e momentos musicais

Para aqueles que quiserem complementar as degustações e o passeio pela Aldeia Natal com propostas culturais e recreativas, o programa oferece muitas opções: desde as oficinas de brinquedos artesanais em madeira ao crochet e novelos de histórias com avós da aldeia, passando pelos momentos musicais, pelas oficinas de prendas de natal sustentáveis e pelos passeios (a pé ou de bicicleta) pela envolvente da aldeia. Destaque para o dia 24 de Dezembro, com a Fogueira de Natal n’ aldeia, a partir das 18h30, e a Missa do Galo, às 21h00. A noite de passagem de ano, a 31 de Dezembro, também contemplará uma celebração tradicional, antes de o programa ser dado por terminado ao final da tarde de dia 1 de Janeiro.

“A animação é assegurada por grupos locais e envolvendo a própria população”, nota Célia Gonçalves, da rede Aldeias de Montanha, garantindo que “a programação que os visitantes vêm encontrar aqui, não se assemelha à de uma cidade com animação de Natal”. Cabeça aposta numa festa genuína, imaginada e preparada por cada um dos cerca de 100 habitantes da aldeia – a população começa a juntar-se meses antes para preparar os enfeites.

Assim é desde 2013, altura em que a população apresentou a ideia ao orçamento participativo do Município de Seia e dava início a uma aventura que está, cada vez mais, nas bocas do mundo e até já vai servindo de inspiração a outras aldeias, que “começam a embelezarem-se nesta época”, observa Célia Gonçalves.

No caso concreto de Cabeça, o encanto está mais do que garantido, em especial ao entardecer com milhares de luzes de tecnologia led a iluminarem as ruelas e o casario típico em xisto.

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