
O furacão Melissa chegou nesta tarde de terça-feira à zona ocidental da Jamaica como uma poderosa tempestade de categoria 5, a mais forte de sempre a atingir esta nação de 2,8 milhões de habitantes nas Caraíbas.
A tempestade chegou a terra junto à cidade de New Hope, 62 quilómetros a sul de Montego Bay, com rajadas de vento de até 295 quilómetros por hora, disseram os serviços meteorológicos norte-americanos. Por volta das 19h (de Portugal continental), o furacão tinha enfraquecido um pouco, mas ainda se mantinha como uma tempestade de categoria 5, a mais elevada na escala Saffir-Simpson.
A preocupação esta noite ia para os potenciais efeitos da passagem do furacão pelo interior montanhoso da ilha, cujas aldeias são vulneráveis a deslizamentos de terra e inundações. “A destruição pode ser como algo que os jamaicanos nunca antes viram”, alerta o meteorologista da AccuWeather Alex DaSilva, citado pela Reuters. “A ilha nunca foi atingida directamente por um furacão de categoria 4 ou 5 na história”, assinala. O furacão Melissa é o terceiro furacão mais intenso registado nas Caraíbas, após o Wilma em 2005 e o Gilbert em 1988.
Colin Bogle, um conselheiro local do grupo de ajuda Mercy Corps em Portmore, perto da capital da Jamaica, disse ter ouvido uma forte explosão de manhã e, em seguida, tudo ficou às escuras. Abrigado com a avó, relatou ter ouvido um ruído incessante e visto árvores a serem violentamente atiradas pelo vento.
“As pessoas estão assustadas. As memórias do furacão Gilbert são profundas e há uma frustração pelo facto de a Jamaica continuar a enfrentar as piores consequências de uma crise climática que não provocámos”, disse. “Será necessária ajuda alimentar, mas o apoio à recuperação, como sementes, ferramentas e reparação de veículo, será igualmente crucial para ajudar as pessoas a restabelecerem os seus meios de subsistência.”
Pouco antes da chegada da tempestade, a empresa de electricidade jamaicana JPS informou que os cortes de energia tinham afectado mais de um terço dos seus clientes. Nas paróquias mais atingidas, cerca de três quartos dos clientes perderam electricidade, disse a JPS.
O Ministro da Administração Local, Desmond McKenzie, disse aos jornalistas que cerca de 6.000 pessoas se tinham deslocado para abrigos temporários. O governo tinha emitido ordens de evacuação obrigatória para cerca de 28.000 pessoas, mas algumas mostraram-se relutantes em deixar as suas casas. “Estamos a receber vídeos e fotos de infra-estruturas públicas gravemente danificadas – hospitais, locais de segurança… por isso, está a ter o efeito que foi projectado”, disse Matthew Samuda, ministro do Ambiente jamaicano, à CNN.
Em Portland Cottage, cerca de 150 km a sudeste do local onde Melissa atingiu a terra, Collin Henry McDonald, reformado de 64 anos, disse à Reuters que a sua comunidade estava a ser atingida por ventos e chuva forte, mas o seu telhado de betão estava a aguentar-se. “É como um leão a rugir. É uma loucura”, afirmou.
As autoridades de saúde no sudeste da Jamaica alertaram os residentes para o perigo de crocodilos que poderão ser deslocados de pântanos e rios e entrar em áreas residenciais à procura de terra seca.
‘Tempestade do século’ na Jamaica
“É uma situação catastrófica”, disse Anne-Claire Fontan, especialista em ciclones tropicais da Organização Meteorológica Mundial, numa conferência de imprensa, alertando para a subida das marés de tempestade até quatro metros. “Para a Jamaica, será, com certeza, a tempestade do século.”
O Haiti e a República Dominicana, nas proximidades, enfrentaram dias de chuvas torrenciais que causaram pelo menos quatro mortes, segundo as autoridades. Pelo menos três pessoas morreram durante os preparativos para a tempestade na Jamaica, noticiou a imprensa local.
Após atravessar o leste de Cuba, ainda como uma tempestade poderosa, a previsão é que Melissa se dirija para as Bahamas, onde o Primeiro-Ministro Philip Davis ordenou a evacuação de pessoas nas partes sul e leste do arquipélago.
Em Cuba, as autoridades disseram ter evacuado mais de 500.000 pessoas de áreas vulneráveis a ventos e inundações. “Não há meias medidas”, disse o Presidente cubano, Miguel Diaz-Canel, numa mensagem publicada no jornal estatal Granma, na qual instou as pessoas em zonas vulneráveis a evacuarem. “Melissa chegará com força, e há grande preocupação com o que poderá destruir na sua passagem”, disse.
Tempestade intensificou-se na aproximação
O movimento lento do Melissa sobre águas do Caribe invulgarmente tépidas contribuiu para o seu tamanho e força crescentes, disseram os meteorologistas do NHC, ameaçando a Jamaica com dias de ventos e chuva catastróficos nunca antes vistos. Melissa pode trazer até 762 mm de chuva para partes da Jamaica, e até 305 mm para partes da ilha de Hispaniola, disse o NHC.
A Cruz Vermelha Internacional disse que se esperava que até 1,5 milhão de pessoas na Jamaica fossem directamente afectadas pela tempestade. “Hoje será muito difícil para dezenas de milhares, senão milhões de pessoas na Jamaica”, disse Necephor Mghendi, responsável da organização, via videoconferência a partir de Porto Espanha, em Trindade e Tobago.
Para permitir uma distribuição rápida de ajuda, artigos essenciais — lonas, kits de higiene, cobertores e água potável segura — foram pré-posicionados nas delegações da Cruz Vermelha na ilha, disse ele, com mais de 800 abrigos montados para os evacuados.
‘Situação terrível’
Melissa atingiu o sudoeste da Jamaica, que foi uma das áreas mais afectadas pelo furacão Beryl no ano passado. Na segunda-feira, o Primeiro-Ministro Andrew Holness ordenou evacuações obrigatórias para partes do sul da Jamaica, incluindo a histórica cidade de Port Royal. Ele alertou para danos em terrenos agrícolas, casas e infra-estruturas na ilha, que é aproximadamente do tamanho de Connecticut e cujos principais aeroportos se situam perto do nível do mar. “Não há infra-estrutura na região que possa resistir a um Categoria 5”, disse ele.
Holness apelou ao apoio externo, dizendo que o governo tinha um orçamento de emergência de 33 milhões de dólares e provisões de seguro e crédito para danos um pouco maiores do que os sofridos com Beryl.
Beryl foi o furacão do Atlântico mais precoce e rápido a atingir a categoria 5 desde que há registo, mas os cientistas alertam que as tempestades estão a tornar-se mais fortes e mais rápidas como resultado do aquecimento das águas oceânicas devido às alterações climáticas.
“Grandes furacões de movimento lento são frequentemente lembrados na história como algumas das tempestades mais mortais e destrutivas de que há registo”, disse o meteorologista-chefe da AccuWeather, Jonathan Porter. “Esta é uma situação terrível a desenrolar-se em câmara lenta.”
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