Quando vejo um outdoor que diz “Isto não é o Bangladesh” ou “Os ciganos têm de cumprir a lei”, não vejo apenas uma frase. Vejo o reflexo de um país que começa a perder o norte moral. Vejo um candidato à Presidência da República a transformar a diferença em arma, o preconceito em cartaz e o medo em campanha.
Há uma linha que separa a crítica política da manipulação emocional. E essa linha foi ultrapassada há muito. Isto não é política, é provocação barata. É a encenação estudada de quem vive do conflito e precisa dele para existir. É a tentativa desesperada de incendiar o país para depois se vender como bombeiro.
“Isto não é o Bangladesh” é mais do que uma frase infeliz. É um insulto colectivo. É a forma mais cínica de dizer que há portugueses que valem mais do que outros, que há vidas que pesam menos, que há pessoas que nunca serão vistas como parte do “nós”.
E o que mais me assusta não é quem o escreve, é quem aplaude. É ver tanta gente a confundir brutalidade com coragem, crueldade com frontalidade, populismo com autenticidade. Não é preciso coragem para atacar minorias. Coragem é governar com justiça, quando é mais fácil ser demagogo.
Há uma geração inteira que cresceu a acreditar que a política podia ser diálogo, que as palavras tinham peso, que a dignidade não era um conceito negociável. E agora, somos obrigados a assistir a este teatro grotesco em que a provocação virou método e o ódio virou marketing.
Portugal merece mais. Merece políticos que levantem o país, não que o dividam em pedaços. Merece campanhas que falem de futuro, não de fronteiras imaginadas. Merece líderes que saibam que o respeito é a base de qualquer Nação civilizada.
Porque sim, isto não é o Bangladesh. Mas também não é o país de quem acha que pode usar o nome de outro povo para ganhar votos. Isto é Portugal, e eu recuso-me a acreditar que o nosso destino seja o barulho fácil, o insulto disfarçado de patriotismo ou a manipulação travestida de discurso duro.
Há quem ache que a política é o palco do confronto. Eu continuo a acreditar que é o espaço da responsabilidade. E talvez por isso escreva isto, porque o que está em jogo já não é uma eleição, é a nossa decência.
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