Maioria dos imigrantes em Portugal são do Paquistão, Índia e Bangladesh? Não é bem assim

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A frase

“Nos países de onde, neste momento, há mais imigrantes em Portugal, que são o Paquistão, a Índia e o Bangladesh, os estrangeiros não podem votar. E não se esqueçam que são países que não concedem a dupla nacionalidade. Se queres ter a nacionalidade deles, pois tens de abdicar da tua”.

—​ Uma utilizadora do X, em resposta à deputada do Chega, Cristina Rodrigues

O contexto

Na semana em que o Parlamento aprovou a nova Lei da Nacionalidade, o tema acabou por ganhar destaque também nas redes sociais. Da esquerda à direita, todas as forças políticas partilharam as respectivas opiniões, mas o espaço de comentário online faz-se também de pessoas singulares e páginas desconhecidas dedicadas ao comentário político.

Foi o caso de uma utilizadora do X, antigo Twitter, que divulgou um vídeo com mais de 10 mil visualizações, centenas de comentários e dezenas de reposts, ou seja, com um alcance considerável apesar do número modesto de pessoas que seguem o perfil de forma recorrente (mais de 5700).

O vídeo em causa é composto por dois outros vídeos. O primeiro com a deputada do Chega Cristina Rodrigues, que questiona os seus seguidores sobre a possibilidade de dar o direito de voto aos imigrantes em Portugal. A deputada diz que a Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) convocou os imigrantes em território nacional para votar nas últimas eleições autárquicas e questiona a opinião dos seus seguidores sobre esta alegada acção. O segundo vídeo surge em resposta à deputada, feito por uma apoiante do Chega para o Tik Tok. A montagem final, que junta os dois vídeos, está espalhada por várias contas de diferentes redes sociais.

Ao longo de mais de dois minutos, a apoiante do Chega argumenta que os imigrantes não podem ter direito ao voto em Portugal quando, nos seus países de origem, os estrangeiros não só não podem votar, como não têm a possibilidade de acumular duas nacionalidades, ou seja, se querem ter a nacionalidade do país para onde se mudaram, têm de abdicar da nacionalidade do seu país de origem. No meio desta argumentação afiança que, entre os mais de 1,5 milhões de estrangeiros em Portugal, os países de origem com maior representatividade são o Paquistão, a Índia e o Bangladesh.

Os factos

A frase proferida pela simpatizante do Chega é desmentida em parte pelos dados presentes no último relatório da Agência para a Integração, Migrações e Asilo divulgado em meados de Outubro.

O relatório revelou que, em 2024, ano ao qual reportam os dados, viviam em Portugal 1.543.697 cidadãos estrangeiros, com título de residência válido, processo de regularização em curso ou autorizações emitidas por regimes específicos.

No que às nacionalidades diz respeito, o Brasil é, como já tem vindo a acontecer nos anos anteriores, a nacionalidade com maior comunidade imigrante, representando 31,4% do número total (484.596). Segue-se a Índia, que de facto surge em segundo lugar como referido nas redes sociais mas com uma grande diferença quanto ao número de pessoas com esta origem. São 98.616, o que se traduz numa percentagem de 7,4%. Em terceiro lugar surge Angola, com 92.348 pessoas em Portugal vindas deste país, ou seja, esta nacionalidade representa 6,9% da população imigrante.

A lista, divulgada pelo jornal Eco, continua com países como Ucrânia (79.232 pessoas), Cabo Verde (65.507), Bangladesh (55.199), Itália (40.021), China (30.734), França (29.009), Espanha (22.130) e Estados Unidos (19.258).

Assim, os países mais representados entre os cidadãos estrangeiros em Portugal são o Brasil, a Índia e Angola, com percentagens do total muito diferentes. Dos países referidos nas redes sociais, também figura o Bangladesh mas com pouco mais de 55 mil pessoas, o que é, em comparação com o Brasil, um número muito reduzido. O Paquistão nem sequer surge na lista divulgada pela AIMA.

O veredicto

É parcialmente falso o que se diz nas redes sociais sobre as nacionalidades mais representadas entre a população imigrante. Não são o Paquistão, a Índia e o Bangladesh, mas sim o Brasil, a Índia e Angola.

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