The Adam Friedland Show não é um talk show normal. O apresentador, Adam Friedland, farta-se de interromper os convidados, frequentemente desarmando-os com parvoíce. No meio disso, acaba por revelá-los, ir para lá da conversa normal de entrevista, chegar a temas desconfortáveis, muitas vezes de forma algo calculada, isto nos episódios mais confrontacionais. De repente, o anfitrião pode estar a contar a Sarah Jessica Parker, a estrela de O Sexo e a Cidade (e And Just Like That…), como adorava, no seu casamento, interpretar com os amigos International Players Anthem (I Choose You), clássico do rap do sul dos Estados Unidos que uniu os míticos duos UGK e OutKast, sem ela estar muito bem a perceber o que está a acontecer. Ou, mais sério, a falar, como pessoa judia, do genocídio em Gaza com o político democrata pró-Israel Ritchie Torres, a dizer como aquilo que se passa no Médio Oriente o afecta, a dizer que tudo isto é “uma nódoa na nossa história” e de como sente que isso “mudou o que ser judeu é”.
O programa em si, que existe no YouTube – e em podcast áudio nos sítios onde o formato se encontra –, começou em 2022, com outro formato, mas os inícios são bastante anteriores. Friedland é um cómico que, entre 2016 e 2022, fez com dois colegas e amigos, Nick Mullen e Stavros Halkias, o podcast de culto Cum Town, feito de piadas recorrentes auto-referenciais, ofensivas, absurdas e juvenis. Halkias saiu para se tornar uma estrela em ascensão, não só com especiais de comédia e o seu próprio podcast Stavvy’s World, mas também para ser actor em séries como Tires e em Bugonia, o mais recente filme do grego Yorgos Lanthimos (Halkias é também de origem grega).
Após a saída de um dos membros, Mullen continuou ao lado de Friedland na versão original de The Adam Friedland Show, que durou uma temporada – e incluiu uma polémica participação de Matty Healy, o líder da banda The 1975 –, até ter saído no início do ano. Essa versão inicial tinha mais conversa entre os colegas, muito Cum Town – há um episódio de Novembro de 2023 em que, por exemplo, Friedland, filho de pais sul-africanos, fala de como se tornou pró-Palestina quando foi, em novo, a uma viagem Birthright Israel, um programa que oferece viagens gratuitas a Israel a jovens adultos de origem judia, e viu a “desumanização e humilhação” a que os palestinianos eram sujeitos. Havia episódios em que era só conversa entre eles, sem convidados.
O programa voltou entretanto, no final de Maio, para uma segunda época, já muito mais focado na parte das entrevistas, mantendo o cenário inspirado em The Dick Cavett Show, o clássico dos anos 1970, além de Friedland a apresentar os episódios, a fazer anúncios às marcas que pagam publicidade – não são bem os anunciantes mais cobiçados do mundo, havendo, por exemplo, comprimidos para a disfunção eréctil. Além dos convidados já mencionados, esta temporada já teve gente como o político democrata caído em desgraça Anthony Weiner, o crítico de música e YouTuber Anthony Fantano, Steiny, um dos membros do grupo de entretenimento, partidas e política Nelk Boys, cujo podcast já recebeu nomes como Donald Trump ou Benjamin Netanyahu, o ex-basquetebolista Blake Griffin, o rapper Logic ou Amanda Knox, que em 2007 foi acusada de homicídio em Itália, tendo estado presa por isso até ter sido inocentada.
Passaram por lá ainda nomes como a jornalista Taylor Lorenz, o actor cómico Rainn Wilson, a ex-actriz pornográfica Mia Khalifa, o comentador conservador Michael Knowles, numa conversa desconfortável em que a obsessão do convidado com pessoas LGBTQIA+ foi subtilmente ridicularizada, ou Richard Kind, o delicioso actor sobretudo cómico que continua a aparecer em praticamente tudo aquilo para que o convidam.
Numa altura em que os talk shows de late night gigantes, que começaram historicamente por serem produções baratas e atraentes para publicidade, estão claramente em crise, coisas mais pequenas têm lugar para crescer. A revista GQ, por exemplo, disse que se ele quisesse, poderia ser uma espécie de Jon Stewart millennial, mas Friedland, que passa a vida dentro e fora do programa a auto-depreciar a suas qualidades, claramente não quer. E, ao contrário de outros programas que têm de servir vários donos, é incancelável.
Disclaimer : This story is auto aggregated by a computer programme and has not been created or edited by DOWNTHENEWS. Publisher: feeds.feedburner.com