O grupo criminoso Tren de Aragua quer negociar a paz com a Colômbia

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Larry Amaury Álvarez Núñez, mais conhecido como “Larry Changa”, um dos fundadores do gangue Tren de Aragua, encontra-se detido desde Junho de 2024 na prisão de La Picota, em Bogotá. O venezuelano de 47 anos, natural de Maracay, no estado de Aragua, surpreendeu o Governo colombiano ao propor, numa carta dirigida ao Presidente Gustavo Petro, a inclusão do grupo criminoso no programa “Paz Total”, que visa encerrar décadas de conflito armado através de negociações e processos de reintegração.

Na carta, Larry Changa apresenta-se como “porta-voz autorizado” do Tren de Aragua e propõe colaborar em “iniciativas de prevenção, reintegração e desmantelamento de dinâmicas criminosas transnacionais”. O texto, também dirigido ao ministro da Justiça, Eduardo Montealegre, e ao alto- comissário para a Paz, Otty Patiño, sugere que o grupo poderia participar em mesas de diálogo, conceber programas de formação técnica e apoiar campanhas sociais para comunidades vulneráveis e migrantes.

A resposta do Governo foi imediata. Montealegre rejeitou publicamente a proposta, afirmando: “Não permitiremos que grupos criminosos, sob o pretexto de processos de paz, escarneçam da justiça internacional para procurar impunidade pelos seus crimes.”

O Tren de Aragua (“Comboio de Aragua”, em português) nasceu no início da década de 2010 dentro da prisão de Tocorón, no estado venezuelano de Aragua, sob a liderança de Héctor Guerrero Flores, conhecido como “Niño Guerrero”. O que começou como um grupo de reclusos dedicado à extorsão e ao tráfico de droga rapidamente se transformou numa estrutura com ramificações internacionais.

Com o agravamento da crise económica e social na Venezuela, o gangue expandiu-se acompanhando os fluxos migratórios, infiltrando-se em redes de tráfico humano, contrabando e exploração laboral por toda a América Latina. Actualmente, as autoridades confirmam a sua presença em 11 países.

O grupo é conhecido por combinar brutalidade com sofisticação empresarial, operando como uma franquia: uma liderança centralizada na Venezuela e células autónomas nos países onde se instala. Utiliza as redes sociais para recrutar e intimidar, recorrendo a criptomoedas para lavar dinheiro e adaptou-se a diversos contextos, desde bairros pobres a círculos internacionais.

A Colômbia como refúgio e centro operacional

De acordo com as autoridades colombianas, o país tornou-se nos últimos anos um refúgio estratégico e centro financeiro do Tren de Aragua. Bogotá, capital colombiana, acolhe várias das suas células desde 2018, sobretudo nos bairros de Bosa e Kennedy, onde o grupo controla territórios ligados ao tráfico de droga, extorsão e sequestros.

Relatórios dos Serviços Secretos revelaram que Larry Changa utilizava fachadas legais — como padarias — para movimentar fundos provenientes do Chile, através de criptoactivos. A Colômbia é também o país onde foram capturados pelo menos 60 membros da organização entre 2024 e 2025, nove dos quais aguardam extradição para os Estados Unidos, o Chile ou a Venezuela.

Fontes judiciais classificam a prisão de Larry Changa como “a captura mais representativa até hoje”, embora reconheçam que não é o elemento mais violento do grupo. Para o Chile, a sua detenção foi simbólica: “É o nosso Pablo Escobar local”, afirmou uma fonte ao jornal El País, destacando o papel do venezuelano na expansão do gangue em território chileno.

A proposta de Larry Changa chega num momento delicado para o Presidente Gustavo Petro, que tem tentado implementar o seu ambicioso projecto “Paz Total” — uma política que combina negociações com grupos insurgentes, como o ELN [Exército de Libertação Nacional] e as dissidências das FARC [Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia], e a submissão à justiça de organizações criminosas como o Clan del Golfo, organização criminosa na Colômbia envolvida no narcotráfico.

O objectivo declarado é pôr fim a mais de 60 anos de conflito armado, abordando também as causas estruturais da violência, como a pobreza, a desigualdade e a economia da droga. Contudo, os resultados têm sido irregulares: as conversações com o ELN estão suspensas e os contactos com grupos criminosos continuam marcados pela desconfiança e pela violência persistente.

O caso do Tren de Aragua ilustra o limite dessa política. Aceitar o diálogo com uma organização que opera redes de tráfico humano e branqueamento de capitais à escala continental poderia fragilizar a credibilidade do Governo e abrir um precedente perigoso. Rejeitá-lo, por outro lado, mantém viva a ameaça de uma estrutura criminal que, segundo as autoridades norte-americanas, é hoje uma das com maior expansão da América Latina.

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