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A situação das mulheres que têm seus sentimentos, anseios e objetivos desconsiderados pela sociedade é a matéria-prima utilizada por Sabrina Marthendal na peça de teatro Pedral, vencedora da 5ª edição do Prêmio Nova Dramaturgia de Autoria Feminina. O prêmio é promovido pelo festival português Esta Noite Grita-se, um evento organizado pela Companhia Cepa Torta com leituras dramáticas de peças de teatro em várias salas pelo país.
Segundo o júri do prêmio, a escolha ocorreu pela “sensibilidade poética, linguagem original e profundidade simbólica na abordagem do universo feminino”. Natural de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, e residente em Blumenau, no mesmo estado, Sabrina é atriz, diretora teatral e dramaturga.
Será a primeira vez que Sabrina vai vir a Portugal. No dia 6 de dezembro, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, ela estará na entrega do prêmio, num evento cultural que vai incluir o lançamento do livro com a peça de teatro e uma leitura dramática. No dia seguinte, no mesmo local, vai ocorrer apenas uma leitura dramática. Estão também marcadas mais duas leituras: uma em Faro, no dia 11, e outra em Lagos, no dia 12. “É uma honra enorme e uma alegria imensa. Eu me sinto até agora muito emocionada. O reconhecimento e a oportunidade que o prêmio oferece às autoras mulheres me tocam profundamente”, afirma a dramaturga.
Em Pedral, a autora constrói um espaço simbólico onde mulheres visitam uma grande pedreira. A partir dessa experiência, narrativas se entrelaçam e fronteiras entre corpo e pedra se dissolvem. “É uma obra na qual convido a pensar sobre o empedramento dos corpos femininos”, explica a autora. “No caso, a expressão empedramento se refere à falta de movimento ou de possibilidade de se fazer algo, como se o corpo se acostumasse com o não agir”, relata.
A ideia nasceu em uma oficina de dramaturgia conduzida pelo artista catarinense Max Reinert, em que Sabrina desenvolveu o embrião do texto, posteriormente expandido com orientação da também dramaturga Angi Lazaretti. “Acredito que o texto tenha vindo de algo sensorial que me desperta tanto ao observar quanto ao ser mulher. É uma espécie de confissão”, resume. A dramaturga vê a conquista como um marco pessoal e coletivo, ao afirmar que a comunidade artística da qual ela faz parte foi toda impactada pela vitória.
Discurso poético
Para Ana Lázaro, integrante do painel de jurados, a escolha de Pedral foi “um consenso natural”, resultado do impacto que o texto causou. “Consideramos que este era o exemplo de uma escrita dramática cujo estilo e universo refletem uma linguagem original e peculiar, com uma assinatura autoral única”, destacou.
Segundo Ana, Pedral propõe “um mergulho sobre o discurso do feminino, urdido em um tecido poético e íntimo, em um tom quase confessional”. O júri ressaltou ainda a força do texto ao reafirmar a necessidade de desfazer discursos arcaicos de repressão de gênero.
Criado em Portugal, o Prêmio Nova Dramaturgia de Autoria Feminina integra o projeto Esta Noite Grita-se, idealizado pelos diretores artísticos Miguel Maia e Filipe Abreu, do grupo Cepa Torta. O festival nasceu de leituras teatrais em bares e espaços alternativos, voltadas a democratizar o acesso à literatura dramática. Ao longo do tempo, foi conquistando novos espaços, incluindo os tradicionais. Como exemplo, esta edição terá leituras dramáticas no Centro Cultural de Belém e Fundação Gulbenkian.
A edição de 2025 do prêmio recebeu 133 candidaturas de países lusófonos. A publicação do texto vencedor será realizada pela Companhia de Teatro Cepa Torta, em parceria com a editora Douda Correria. Um dos objetivos do projeto Esta Noite Grita-se é promover a escrita teatral contemporânea. “Nestes cinco anos de atribuição de prêmios, com uma média de mais de 100 candidaturas anuais, sentimos que há muitas autoras com vontade de escrever e que a visibilidade da distinção motiva ainda mais pessoas a fazê-lo”, afirma Miguel Maia.
Em cinco edições, é a terceira vez que uma autora brasileira ganha o Prêmio Nova Dramaturgia de Autoria Feminina. Em 2022, a paulistana Maria Giulia Pinheiro foi a distinguida com a peça Isso não é Relevante. Em 2024, foi Luz Ribeiro, também de São Paulo, que venceu com a obra Lacuna.
Para o também diretor Filipe Abreu, o festival é um espaço de descoberta e partilha. “O que começou entre amigos, com a leitura de peças de teatro em bares, de forma muitíssimo informal, transformou-se nesta festa da degustação da palavra, do transmitir de tantos ditos e não ditos. Nestas leituras, fomos descobrindo a arte de contar peças de teatro de uma forma original, sem grande aparato, sem grande encenação, como se fossem musas que dão voz às palavras dos dramaturgos e dramaturgas que fomos escolhendo”.
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