São Martinho e seus magustos: venham as castanhas, quentes e boas

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Reza a lenda que, num Outono frio do ano de 337, um cavaleiro do exército romano renunciou ao seu ofício para se tornar monge católico. De regresso a casa, durante uma tempestade, cruzou-se com um mendigo que lhe pediu esmola e, sem demora, tirou o manto que o aquecia, cortou-o ao meio com a espada e partilhou o resguardo com o pedinte. Foi então que, por graça divina, o céu se iluminou com um sol radioso, levando a ríspida tempestade e trazendo o milagre que ficou conhecido como o Verão de São Martinho, em honra do militar, Martinho de Tours.

Dezassete séculos passados, a história continua a ser lembrada, fazendo do 11 de Novembro um ponto de encontro, solidariedade e partilha da colheita de Outono, como atesta o ditado popular “no Dia de São Martinho, pão, castanhas e vinho”.

A festa quer-se simples, comunitária, com cheiro a terra e ligação às raízes, mas também vale a pena provar os créditos da modernidade e entrar em festas de sabores relacionados — os míscaros, a batata-doce, o chocolate, a aguardente e o moscatel são apenas alguns dos acepipes que levam a estação das folhas douradas à mesa e acompanham bem a celebração do São Martinho. Honrando os pergaminhos da lenda, o tempo costuma estar de feição, pelo que é de aproveitar para pôr as tradições em dia.

Quentes e boas

Assada, cozida ou frita. Ao natural, com sal ou erva-doce. Ou até em compota, sopa e puré. As valências da castanha vão muito além do postal do assador em cima das brasas a crepitar, com o fruto a granel ou em cartuchos à espera de mãos mais ou menos devotas à tarefa de descascar (há quem assegure que o ritual começa a saborear-se logo neste momento). Mas comecemos pela festa que é um magusto à moda antiga, onde se assam castanhas e se bebe água-pé ou jeropiga, em amena cavaqueira e convívio.

Venham as castanhas, quentes e boas
Teresa Pacheco Miranda

A receita volta a servir-se na vila de Marvão, nos dias 8 e 9 de Novembro, na 41.ª Festa do Castanheiro e Feira da Castanha. Quatro toneladas de castanha e mil litros de vinho dos produtores locais fazem as honras da degustação nos três magustos tradicionais do certame, dando a conhecer as variedades bárea, colarinha e bravo, produzidas nos soutos do concelho. Em cartaz estão também outros sabores da terra, artesanato (cestaria e bordados com casca de castanha são dois dos exemplos na montra), animação musical e uma Quinzena Gastronómica da Castanha a temperar as ementas de 15 restaurantes do concelho, até 23 de Novembro.

Se quiser tirar as medidas do “maior assador de castanhas do mundo”, siga para o Parque Municipal de Exposições e Feiras de Vinhais (Bragança). É esse o grande trunfo da XX Rural Castanea – Festa da Castanha que, entre 7 e 9 de Novembro, acena com um magusto permanente, a castanha longal e outros produtos de Outono (mel, nozes, azeite, vinho…), chegas de touros, jornadas, doçaria, concursos, caminhadas e música.

No rol de coordenadas à moda tradicional entram também a Feira de São Martinho de Alijó, com direito a castanhas, tripas e vinho novo (dia 11, a partir das 7h); o Tradicional Magusto no Parque Biológico da Serra da Lousã (dia 12, às 14h30); o magusto solidário no Largo do Centro Autárquico de Quarteira (dia 9, das 15h às 18h); e o Magusto à Antiga na Póvoa Velha (Seia), uma experiência autêntica que inclui caminhada pela aldeia, almoço partilhado no bosque, castanhas assadas na caruma, jeropiga, caldo verde, petiscos regionais e “muita conversa à volta da fogueira”, faz saber a promotora Casas da Ribeira (dia 22, a partir das 10h, 7€ a 15€, sujeito a inscrição).

Com a festa por conta da “música pirosa, cerveja formosa e castanha gostosa”, temos a oitava edição do Maugusto da Musa, em Marvila (Lisboa), proposta que entrega o bailarico a quatro DJ e transforma o São Martinho numa “epopeia de mau gosto” com lugar a modernices como croquetes de leitão, sandes de entremeada fancy ou rabanada de castanha e jeropiga (dia 8, a partir das 13h).

E para quem gosta de juntar aos sabores tradicionais do Outono o encantamento do cosmos, venha um Magusto Cósmico na Quinta Biológica do Confurco, em Fafe. Promete crepitar das castanhas, convívio à volta da fogueira, degustação de vinho novo e observação astronómica guiada com telescópios, sob orientação da CountingStars, especialista em astroturismo (dia 15, às 17h, com preços entre 8€ e 17€).

adriano miranda

Com um pé na adega

Parte importante da tradição do magusto é a degustação de vinho novo. O espírito da estação faz-se sentir também nas adegas, que se juntam à festa com experiências à medida. Exemplos? De 8 a 11 de Novembro, a Casa-Museu José Maria da Fonseca, em Azeitão, propõe a prova de dois vinhos premium, com direito a um saco de castanhas para assar em casa e a uma garrafa de vinho tinto — cortesias também fornecidas na Adega José de Sousa, em Reguengos de Monsaraz, que ao longo do mês de Novembro faz vénias a São Martinho com visitas guiadas, provas do vinho novo e degustações com produtos regionais (cada programa pelo valor de 27€).

Na Adega da Quinta do Sampayo (Cartaxo), a grande festa do Magusto está marcada para 15 de Novembro, às 15h, e inclui prova de vinhos, castanhas assadas, visita guiada, danças e cantares tradicionais, e o cenário das vinhas em pano de fundo (15€, com reservas até dia 13).

Na Vidigueira, a mesma data está reservada para o Amphora Wine Day da Herdade do Rocim, onde a arte milenar do vinho de talha faz a serventia da casa num programa centrado na ânfora e nos cerca de 50 produtores nacionais e internacionais presentes, e complementado com provas, exposições, conferências, gastronomia e música (das 14h às 19h, 29,50€).

Para os lados de Palmela contribuem o S. Martinho n’Adega da Venâncio da Costa Lima, na Quinta do Anjo (dia 8, às 16h, 38€); o São Martinho Solidário da Casa Ermelinda Freitas, em Fernando Pó (dia 9, das 13h às 18h, 17,50€); e o Magusto na Adega de Palmela (dia 9, às 16h, 35€). E voltamos a Azeitão para dar conta do Magusto da Quinta de Catralvos (dia 9, das 12h às 19h, com entrada livre).

Vai bem com…

Para complementar o manjar de castanhas, deixamos mais uns pedaços de bom caminho para confortar o estômago e a alma. De 7 a 9 de Novembro, há Feira de Chocolate em Grândola com guarnição de Semanas Gastronómicas dedicadas aos sabores de São Martinho, a valer até dia 15 nos restaurantes do concelho.

De 6 a 9, Arruda dos Vinhos está entregue à 28.ª Festa da Vinha e do Vinho, certame que partilha o nome com a festa de Borba, marcada para uns dias depois (de 11 a 16). Por esta altura, entre 7 e 21 de Novembro, há brindes também com a aguardente DOC Lourinhã, estrela da Quinzena Gastronómica que, nesta 14.ª edição, se senta à mesa de 21 estabelecimentos.

No fim-de-semana de 14 a 16, a Festa dos Sabores de Montanha regressa a Folgosinho (Gouveia) para mostrar as riquezas da região, que vão da castanha e dos frutos secos ao pão de centeio, mel, compotas, doçaria, caça, enchidos e cogumelos. E de 12 a 16, a pitoresca aldeia de Alcaide (Fundão) mostra por que é considerada a capital do cogumelo, abrindo portas a mais uma edição do original e autêntico Míscaros – Festival do Cogumelo.

De 21 a 23 de Novembro, as atenções viram-se para a 34.ª Feira do Mel e da Castanha da Lousã e para o Festival do Moscatel de Palmela. E, a fechar a cortina do mês, temos o Festival da Batata-Doce de Aljezur (de 28 a 30).

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