
Começa agora aquela fase do ano em que circula uma frase idiomática que muitos gostam de citar: “Isto agora mete-se o Natal e o Ano Novo, de forma que já só em Janeiro.” É uma piada que resume o espírito do mês de Dezembro por inteiro.
Esta é provavelmente a altura em que mais nos esforçamos por estar presentes: nas compras, na família, no trabalho, em tudo ao mesmo tempo. E nem sempre conseguimos.
A tradição de Dezembro é voltar a casa, algo que nem todos podem fazer. Não só porque têm ritmos de trabalho difíceis/impossíveis de conciliar com a época natalícia, ou porque vivem a milhares de quilómetros das “suas pessoas” e não podem reagrupar a família, ou ainda porque vivem sozinhos, famílias dispersas, vidas aceleradas, horários mais do que completos. Mas também porque há quem não tenha casa — é preciso dizê-lo.
Quando a “casa” já não é garantida, não há humanidade, e o Natal é o último espaço de humanidade num país desigual.
O Natal devia ser como o Presidente da República: de todos e para todos. Para os portugueses e os imigrantes que vivem isolados, para os sem-abrigo, para a esquerda e para a direita, para os que ganham o salário mínimo e tentam equilibrar afectos e carteira, para os que vivem em mansões e condomínios fechados e para os que cedem à pressão social de compensar a ausência com mais um presente. Mesmo os que não o celebram podem aproveitá-lo ou aproveitar aquilo que esta “pausa” permite.
No Natal, é urgente preservar as conversas lentas, os rituais, a presença física e as pequenas práticas que fazem daquele momento um ponto de (re)união. E também é cada vez mais importante evitar que os ecrãs se intrometam nas mesas de refeições ou interrompam diálogos e cultivem a falta deles.
Na última década, o tempo passado online cresceu de forma contínua. Estudos recentes indicam que, em média, os menores entre os 4 e os 18 anos passam quatro horas por dia em frente aos ecrãs — no caso dos adultos não será muito diferente. Tudo junto, é mais do que todo o mês de Natal (são, aliás, dois meses).
Os serviços de comunicações através da Internet posicionaram Portugal acima da média da União Europeia em 2023: 79% contra 75% nas mensagens instantâneas das redes sociais e 71% contra 69% nas chamadas de voz e vídeo.
Perante este excesso de estímulos digitais, abrandar é uma necessidade humana e a época natalícia (assim como as férias) é um dos melhores momentos para o fazer.
Se não for no Natal, quando é que realmente paramos?
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