Trump quer exportar a revolução MAGA para a Europa

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A Estratégia de Segurança Nacional (NSS, na sigla inglesa) dos EUA, publicada no início do mês e já famosa um pouco por toda a Europa, oficializa a intenção de redefinir totalmente a relação transatlântica. O documento vai muito além da ideia de que os europeus têm de pagar uma parte maior da sua própria defesa, o “burden-sharing” que já era uma reivindicação da administração Obama e que aliás também surgiu na sua NSS, publicada em 2010.

O que este documento deixa agora explícito é que a segunda Administração Trump quer exportar a revolução MAGA para a Europa. Na sua visão, a aliança transatlântica perderá todo o valor se a Europa perder o seu “carácter” (p. 26), algo que está em perigo de acontecer devido à imigração, que faz com que seja “mais que plausível que dentro de algumas décadas (…), certos membros da NATO se tornem maioritariamente não-europeus” (p. 27).

Esta realidade, conjugada com a suposta hostilidade da UE à “liberdade de expressão”, leva a uma declaração de que os EUA vão adoptar a ingerência nos assuntos europeus como prioridade estratégica, passando a “cultivar resistência à actual trajectória da Europa dentro das nações Europeias” (p. 27). Leia-se: os EUA devem apoiar partidos e/ou movimentos de extrema-direita na Europa.

Na página seguinte, postula-se o objectivo oposto para o Médio Oriente, onde é preciso “abandonar a experiência errónea da América dar sermões a estas nações – especialmente as monarquias do Golfo – para que elas abandonem as suas tradições e formas de governo históricas” (p. 28).

Apesar de a NSS confirmar uma clara tendência na posição de Trump em relação à Europa desde que regressou ao poder em Janeiro, a formalização destas ideias no documento estratégico central de qualquer Administração não deixou de causar transtorno nas capitais europeias. O que explica a hostilidade de Trump?

Há duas grandes razões: primeiro, a Casa Branca vê hoje a Europa como um mercado para as suas exportações, em particular das grandes empresas tecnológicas, que valem mais de um terço de todo do índice bolsista S&P 500 e que firmaram uma aliança com o movimento MAGA, ajudando Trump a regressar à Casa Branca. Para o novo eixo Washington-Silicon Valley, o ímpeto regulatório da UE representa uma ameaça à dominância destas empresas e, portanto, deve ser combatido.

Veja-se a reacção americana à multa aplicada pela UE ao X (ex-Twitter). A multa de 120 milhões deve-se a três infrações relacionadas com falta transparência da rede social, mas foi imediatamente apelidada de “censura”, quando na realidade se focava em três casos de falta de transparência.

Nos últimos anos, a UE tem-se afirmado como líder na regulação da internet porque as tecnológicas preferem cumprir as suas leis a abdicar de um mercado de 450 milhões de consumidores com grande poder de compra. Alistar a Casa Branca nesta luta pode finalmente livrá-los deste regulador exigente.

Também na defesa, os EUA querem manter a fidelidade de um mercado que, graças à agressão russa, mostra uma procura cada vez maior por munições e equipamento de ponta. Sozinho, cada país europeu dificilmente consegue produzir este tipo de material: mais uma vez, a unidade europeia, que poderá levar a fundos de investimento e consórcios na indústria da defesa, torna-se uma ameaça para a visão da Europa como um mero mercado para os EUA.

A segunda grande razão é ideológica. Depois de uma revolução, as novas elites depressa esbarram com a realidade. A crença de que o povo sofria porque as velhas elites conspiravam contra ele (por muito verdade que isso possa ser), entra em conflito com a realidade de que há problemas difíceis de resolver e que cada solução cria um novo problema. Como manter a fé dos revolucionários? O que lemos na secção sobre a Europa da NSS de Trump é um ensaio da resposta tradicional: criar um inimigo externo e mobilizar as forças revolucionárias contra o novo alvo.

Depois de 80 anos de euro-atlantismo, não é fácil perceber como reagir a este desafio: que tipo de riscos coloca agora a dependência dos EUA? Como evitá-los sem dar pretexto para uma cisão abrupta? São questões difíceis, mas podemos beneficiar aqui de outra dinâmica milenar: a união em torno de uma ameaça externa. Neste caso, uma dupla ameaça: ideológica (EUA) e militar (Rússia). Qualquer que venha a ser a resposta concreta, a trajectória mais segura é a que reforçar a unidade da Europa.

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