“Uma criatura extra-marinha” onde tudo é imponente, eis o Gitana 18

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O primeiro grande teste acontecerá apenas em Novembro de 2026, quando for dado o tiro de partida para a mítica Route du Rhum, regata transatlântica em solitário, disputada a cada quatro anos, que liga ao longo de 3500 milhas náuticas (quase 6500 quilómetros) Saint-Malo, na Bretanha francesa, a Pointe-à-Pitre, na ilha de Guadalupe. Porém, quase um ano antes, o secretismo em torno do mais recente capítulo da Gitana Team foi desvendando. Com pompa e circunstância, na base naval de Lorient a equipa fundada em 2001 por Benjamin e Ariane de Rothschild revelou o rosto do trimarã Gitana 18, “uma criatura extra-marinha”, onde tudo é imponente.

Quando em Maio de 2018 o PÚBLICO teve a oportunidade de subir a bordo e de estar ao leme do Gitana 17 ao largo de Cascais, tudo no colosso de 32 metros de comprimento por 23 de largura impressionava. Construído para bater recordes, o 27.º barco da saga Gitana precisou apenas de vento moderado de 15 nós para que as suas 15,5 toneladas descolassem. E, apoiado nos foils, o primeiro grande trimarã voador começou subtilmente a planar sobre a água a uma velocidade de 33 nós (cerca de 61km/h).

Quase oito anos depois, Sébastien Sainson, responsável pelo gabinete de design da Gitana Team, confessou em declarações ao PÚBLICO, que em 2017, quando concluíram o projecto do Gitana 17, consideravam que tinham “chegado ao limite”. “Hoje vemos que estávamos no início. Acredito que estamos apenas no começo da era do voo. Daqui a dez anos, vamos olhar para este barco e pensar: ‘Como era possível que isso fosse considerado moderno?’”.

Um laboratório de tecnologia

Mas, de facto, hoje o Gitana 18 é notícia por ser um laboratório de tecnologia, mas também por não ter deixado de fora a arte: o Palais de Tokyo, centro parisiense dedicado à arte contemporânea, colaborou directamente com os artistas Florian e Michaël Quistrebert, sob curadoria de Hugo Vitrani, para conceber uma obra cinética que ocupa perto de 2000m2 na estrutura do novo trimarã, transformando o barco numa obra de arte em movimento.

Após três anos de trabalho – 12 meses de estudos, 24 meses de construção -, geridos como uma verdadeira empreitada de alta tecnologia, o trimarã da classe Ultim, que quando vestir o fato de competição surgirá com o nome de Maxi Edmond de Rothschild, foi projectado para ultrapassar todos os limites e voar 100% do tempo possível, mesmo em mar aberto.

Com números que ajudam a perceber a escala do projecto – 32 metros de comprimento; 23 metros de largura; mastro com mais de 40 metros; 15 toneladas de peso; acredita-se que possa ultrapassar os 90km/h -, o que distingue verdadeiramente o Gitana 18 é a forma como cada quilo, cada centímetro quadrado de vela e cada componente estrutural foram pensados para potenciar ao máximo o voo sobre a água.

Mais do que apenas “um barco de corrida”

Neste capítulo, se há um elemento que distingue o Gitana 18, são os seus foils de última geração. Estas “asas” submersas, com dimensões nunca atingidas, permitem ao trimarã elevar-se acima da superfície, reduzindo drasticamente o atrito e aumentando a velocidade média em travessias longas.

Ao contrário dos foils de gerações anteriores, os do Gitana 18 foram desenhados para funcionarem de forma eficaz numa gama ampla de condições: desde ventos moderados, até cenários mais extremos característicos dos mares do Pacífico Sul. O objectivo não é apenas atingir picos de velocidade, mas manter ritmos elevados constantes, sem nunca prescindir da segurança e do controlo da embarcação.

Com alguns dos nomes grandes da engenharia naval, da aerodinâmica e dos materiais compósitos da indústria francesa envolvidos, no Gitana 18 o casco e as estruturas internas são feitos maioritariamente de fibra de carbono, moldada em fornos de alta precisão, num processo semelhante ao usado na indústria aeroespacial.

Sendo mais do que apenas um “barco de corrida”, o trimarã procurará ser “uma plataforma de investigação contínua”, uma vez que contará a bordo com sensores que vão recolher milhares de dados por segundo: cargas estruturais, pressão nos foils, velocidade do vento aparente, comportamento do casco e até vibrações microscópicas. Estes dados, serão analisados em tempo real pela tripulação e, posteriormente, em terra, por engenheiros e cientistas que ajustarão configurações e estratégias.

Tudo, sem prescindir de um legado de século e meio. O Gitana 18, é o 28.º barco da saga que começou em 1876, quando a baronesa Julie de Rothschild mandou construir um iate a vapor chamado Gitana, que passou a ser um marco no mundo náutico da época. Desde aí, o nome “Rothschild” passou a estar associado ao mar pelo investimento tecnológico e cultura de inovação e, no arranque do século XXI, Benjamin e Ariane de Rothschild transformaram a herança familiar num programa desportivo e tecnológico de classe mundial, fundando o Team Gitana.

Após a morte do marido em 2021, Ariane de Rothschild tornou-se na armadora e patrona da equipa e, no lançamento do Gitana 18, em conversa com o PÚBLICO, a baronesa deixou claro que a esta é uma história que está longe do seu fim: “Estamos a investir em tecnologias que, mais tarde, podem transformar sectores inteiros ligados à energia e aos transportes. Estamos, de certa forma, a antecipar o futuro. A nossa ambição não é apenas inovar para competir. É perceber como o que fazemos, pode facilitar a navegação no mundo real.”

O Público viajou a convite da Gitana Team

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