Zohran Mamdani eleito mayor: “Neste momento de escuridão política, Nova Iorque será luz”

0
3

Zohran Mamdani venceu categoricamente as eleições autárquicas nova-iorquinas desta terça-feira. Com cerca de 91% dos votos apurados, o candidato socialista somava 50% das preferências, com mais de 8 pontos percentuais de vantagem sobre o democrata centrista Andrew Cuomo, ex-governador do estado de Nova Iorque. É o corolário de uma ascensão estrondosa, em menos de um ano, de um deputado estadual praticamente desconhecido que, através das redes sociais e do contacto directo com os cidadãos, se impôs nas primárias democratas e nas eleições para a maior cidade norte-americana com um discurso focado nas questões do custo de vida, sobretudo na habitação, e na crítica do trumpismo.

“Neste momento de escuridão política, Nova Iorque será luz”, declarou nesta noite Mamdani perante uma multidão de apoiantes no bairro de Brooklyn, dirigindo-se também ao Presidente republicano Donald Trump: “Oiça-me, Presidente Trump, quando digo isto. Para chegar a qualquer um de nós, terá de passar por todos nós.”

Trump já respondeu, embora de forma curta e críptica, através da sua rede social Truth Social. “E ASSIM COMEÇA”, escreveu. Na noite de segunda-feira, o Presidente norte-americano tinha declarado que os nova-iorquinos não teriam “outra escolha” que não votar em Cuomo, e que a cidade deixaria de receber fundos federais em caso de vitória de Mamdani.

A ameaça não surtiu efeito, mas Trump não é o único derrotado da noite em Nova Iorque. A vitória de Mamdani representa também um revés para sectores da liderança nacional democrata que tardaram a apoiar o candidato. O apoio de Hakeem Jeffries, líder da minoria democrata na Câmara dos Representantes, eleito pelo Brooklyn, tinha pouco mais de uma semana. O de Chuck Schumer, líder da minoria democrata no Senado, também nova-iorquino, nunca chegou. Vários nomes de peso do universo democrata, incluindo o do ex-Presidente Bill Clinton, tinham expressado apoio a Cuomo, que concorreu como independente, também com o auxílio da elite empresarial da cidade. Cosmopolita, densa, rica, Nova Iorque não representa necessariamente o resto do país, mas haverá lições a tirar pelos democratas do sucesso de Mamdani.

Prometer poesia, governar em prosa

No discurso de vitória em que citou o histórico socialista americano Eugene Debs (“Consigo ver a aurora de um dia melhor para a humanidade”), o autarca-eleito citou também Mario Cuomo, ex-governador nova-iorquino e pai do seu mais directo adversário, ao dizer que “faz-se campanha com poesia, mas governa-se em prosa”, acrescentando querer, contudo, que “a prosa rime” desta vez. É uma referência às elevadas expectativas geradas ao longo da campanha e a sua tradução incerta para medidas concretas. Mamdani venceu as eleições com promessas de congelamento das rendas na habitação, de gratuidade dos autocarros, de maior acesso às creches e de criação de uma rede de mercearias públicas.

“Quando entrarmos na câmara municipal dentro de 58 dias, as expectativas serão elevadas. Iremos corresponder a elas”, prometeu. “A nossa grandeza será tudo menos abstracta. Será sentida por cada inquilino de renda estabilizada ao acordar no primeiro dia de cada mês sabendo que a quantia que vai pagar não disparou desde o mês anterior. Será sentida pelos avós que vão poder ficar na casa pela qual trabalharam, e cujos netos vão poder viver por perto porque o custo das creches não os mandou para Long Island”, afirmou, aludindo à fuga de nova-iorquinos para os subúrbios sob pressão do custo de vida.

“Será sentida pela mãe solteira que se sente segura no caminho para o trabalho e cujo autocarro anda mais rápido e não de apressar a entrega dos filhos na escola para chegar a horas ao emprego. E será sentida quando os nova-iorquinos abrirem os seus jornais de manhã e lerem manchetes sobre sucessos, não sobre escândalos. Acima de tudo, será sentida por cada nova-iorquino quando a cidade que eles amam finalmente os amar de volta”, acrescentou.

Muçulmano nascido no Uganda há 34 anos, filho de pais indianos e naturalizado norte-americano em 2018, Mamdani faz para já história nesse sentido com a sua eleição. Enfrentou, contudo, a desconfiança de parte da numerosa comunidade judaica da cidade, em parte motivadas pela sua identidade e biografia, em parte pela crítica aberta a Israel. Dirigiu-se nesta noite a estes e aos restantes eleitores: “Construiremos uma câmara municipal que se mantenha firme ao lado dos nova-iorquinos judeus e que não hesite na luta contra o flagelo do anti-semitismo, e onde os mais de um milhão de muçulmanos saibam que o seu lugar é ali, não apenas nos cinco bairros da cidade, mas também nos corredores do poder.”

Vitórias democratas no resto do país

A noite eleitoral de terça-feira fica ainda marcada por um triunfo em toda a linha dos democratas em três outras votações de relevo. No vizinho estado de Nova Jérsia, onde as sondagens não excluíam a hipótese de uma vitória republicana, a democrata Mikie Sherrill acabou por impor-se a Jack Ciattarelli na eleição para a liderança do governo estadual. Com a contagem de votos perto de concluída, soma mais de 56% contra os 43% do adversário republicano.

Na Virgínia, estado considerado um razoavelmente fiável barómetro dos ânimos nacionais, a democrata Abigail Spanberger confirmou o favoritismo nas sondagens e foi eleita governadora com mais de 57% dos votos, batendo a candidata republicana Winsome Earle-Sears (42%). O estado, vizinho da capital norte-americana Washington D.C., tem sido particularmente penalizado pelos cortes e despedimentos decretados pela Administração Trump no sector público.

Na Califórnia, e apurados 65% dos votos cerca das 21h45 locais de terça-feira (05h45 em Portugal continental), está garantida a aprovação pelos eleitores da Proposta 50, que abre o caminho legislativo para o desenho de um novo mapa dos círculos uninominais para a eleição dos congressistas californianos para Washington. O Partido Democrata, em maioria no parlamento estadual, poderá por essa via tirar cinco mandatos aos republicanos no Congresso, anulando o efeito contrário de uma iniciativa semelhante desencadeada no Texas durante o Verão a pedido de Trump. É um novo capítulo de uma guerra dos mapas eleitorais, que terá efeitos por agora imprevisíveis nas decisivas eleições intercalares de 2026, em que estará em jogo o controlo do Congresso e, consequentemente, do sucesso da agenda legislativa de Trump.

A aprovação da Proposta 50 é também um triunfo pessoal para o governador democrata californiano Gavin Newsom, que tem emergido como um dos rostos nacionais da oposição ao trumpismo e que é, de momento, um dos nomes mais cotados no campo democrata para as presidenciais de 2028. Esta noite, porém, focou-se nas intercalares de 2026 ao celebrar a aprovação da proposta para o redesenho do mapa. “Deixem-me ser claro, nós podemos acabar com a presidência de Donald Trump tal como a conhecemos no minuto em que [Hakeem] Jeffries tomar posse” como líder de uma hipotética maioria democrata no Congresso, declarou, apelando aos restantes governadores do partido para se juntarem à Califórnia na alteração dos círculos de eleição para Washington, referindo-se directamente à Virgínia, Maryland, Nova Iorque, Illinois e Colorado.

Disclaimer : This story is auto aggregated by a computer programme and has not been created or edited by DOWNTHENEWS. Publisher: feeds.feedburner.com