Mais um acto de vandalismo lesa-património
A Ermida de Santo Antão, situada num morro a norte de Óbidos com acesso por sinuoso escadório e vista desafogada para a vila e o castelo, é um importante testemunho histórico-artístico regional. Fundado em 1386 por iniciativa de Antão Vaz Moniz, cavaleiro da Ala dos Namorados envolvido na batalha de Aljubarrota, é palco de uma antiquíssima festa a 17 de Janeiro, com grande significado para as populações de Óbidos. Chamada na gíria Santo Antão dos Chouriços, é festa singular, em que as pessoas da região sobem ao morro para venerar o santo eremita, padroeiro do gado, numa espécie de quermesse popular.
A construção, de características vernaculares, cheia de encantação não-erudita, integra um espaço interior com importante recheio artístico. Desde a rude escultura pétrea do santo (que será ainda do fim do século XIV), ao retábulo maneirista pintado por Belchior de Matos (cerca de 1600), e aos belos azulejos azuis e brancos de fabrico lisboeta (da primeira metade do século XVIII) com passos da iconografia de Santo Antão, são múltiplas as valências dignas de atenção.
Ora este tesouro regional foi alvo, há poucos dias, de um acto de vandalismo que incluiu o roubo de parte dos azulejos! Só por circunstâncias fortuitas o furto não teve maior extensão de perdas, por ter sido interrompido in extremis, não sem que entretanto se perdesse parte do revestimento cerâmico barroco-joanino da capela-mor…
Neste momento, um grupo de cidadãos obidenses envida esforços junto da paróquia e das tutelas para que a brigada de furtos da PJ recupere os azulejos setecentistas (deles existe, felizmente, registo fotográfico integral) e para que a ermida seja finalmente classificada pelo novo instituto Património Cultural – IP/MC, já que, coisa que surpreende, não fazia parte da lista de bens abrangidos por classificação estatal (é uma anomalia que precisa de ser corrigida desde já)! Mais ainda: através de um crowdfunding, está já a decorrer uma campanha de fundos para reforçar o processo de salvaguarda e preservação integral da ermida, protegendo-a de novos actos de delapidação. (…)
O assunto não é de somenos: trata-se, no fim de contas, de uma mais-valia absoluta do património histórico-artístico obidense – e também regional, e também nacional… Será que, com o actual desgaste dos valores de cidadania democrática, também nos vamos esquecendo do património cultural e artístico, o maior dos nossos bens identitários?
Vítor Serrão, Santarém
As prioridades do Parlamento português
Na passada sexta-feira, Dia para a Erradicação da Pobreza, e sob o título “Salário de 900 euros e 750 de renda: ‘Vejo-me nesse papel de ser pobre’”, o PÚBLICO confronta-nos com o impressionante, tocante, dramático testemunho de uma mulher que, com 56 anos e já tendo tido uma vida dita “normal” (foi bancária), se vê, presentemente, nesse papel de “ser pobre”. Este relato é revelador de uma realidade vivida por muitas pessoas que, tendo trabalho, lutam diariamente para sobreviver. Parte delas, que se viram privadas de uma “ajuda” no apoio às rendas, cortado em 2025, e ainda por solucionar (IRHU/Governo).
Nesse mesmo dia, o Parlamento português, que devia dar provas de alguma empatia e respeito para com os pobres deste país, levando a essa casa medidas de combate à pobreza, escolhe fazer aprovar uma proposta relacionada com a proibição do uso de burqa em Portugal. Não posso deixar de me questionar sobre quantas mulheres com burqa terão sido avistadas por cá. Há estudos sobre o assunto, números, estatísticas? E aos jornalistas, não compete também exercer um papel interventivo, muito para além do simples relato da notícia, com as “sonantes” vozes de aplauso que se fizeram ouvir no Parlamento, tudo em prol da alegada “liberdade da mulher”? Que triste país é este? Triste e deprimente, como a vida dessa mulher que luta, todos os dias, pela sua sobrevivência.
Isabel Morais, Aveiro
As burqas e a sensatez
Por convicção, não estou nos antípodas da recente declaração de Passos Coelho sobre a imigração e as suas consequências: “Se tudo se mantiver como está, os nacionais sentir-se-ão estrangeiros na sua terra.” Contudo, terei de reconhecer que o nosso país precisa de imigração e de imigrantes, em áreas-chave da nossa economia. De uma forma regulada, como pais democrático e de génese humanista, abdicando de extremismos e de populismos, deveremos acolhê-los, sinalizando-lhes a necessidade de conviverem com valores de génese ocidental, na base de leis adequadas e equilibradas, que observem o respeito pela condição humana. Para que nós, enquanto nacionais, nos sintamos à vontade na nossa casa. Ou seja, no nosso país que é a casa de cada um.
Guilherme Lavos, Lisboa
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