Cartas ao director

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Acordo Ortográfico

Escrevo, embora com dias de atraso, para realçar mais uma excelente crónica do jornalista Nuno Pacheco, há dias, sobre o monumental disparate que é o Acordo Ortográfico em vigor. Passam os anos e fica para a história aquela iniciativa que decidiu alterar a ortografia por decreto e se deveu a uns iluminados que se julgaram como a grande autoridade linguista.

O resultado é que hoje há uns tantos que, por razões oficiais, são obrigados a respeitar o anacronismo imposto por lei, há outros que se mantêm fieis à escrita que aprenderam na escola e há muitos outros que escrevem como lhes apetece, não querendo sequer pensar se escrevem pelo acordo ou contra ele. Caos generalizado. Não chegará o dia em que se declara a nulidade do Acordo Ortográfico?

Fernando Santos Pessoa, Faro

Interior sem jornais

Lembram-se quando na cidade do Porto despontavam matinalmente o Jornal de Notícias (JN), O Comércio do Porto e o Primeiro de Janeiro? Lembram-se quando, ao final da tarde, chegavam de Lisboa os vespertinos A Capital, o Diário de Lisboa e o Diário Popular? E estávamos na ditadura do Estado Novo! Desses jornais só o JN resiste. Notícias alarmantes dão conta que oito concelhos do interior Norte podem ficar sem distribuição de jornais. A única distribuidora (VASP) alega que não compensa deslocar pessoal e viaturas para servir essas populações. O Governo e as câmaras municipais que dão apoio a milhares de associações e instituições devem abrir os cordões à bolsa. No entanto, com o advento dos jogos sociais, muitos pontos de venda nem sequer ostentam jornais na montra. Quando tanto se fala em liberdade de expressão e democracia é importante apoiar a imprensa generalista.

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

Entrevista ao CEMGFA

Saiu ontem uma entrevista ao CEMGFA (Chefe de Estado-Maior-General das Forças Armadas), no PÚBLICO, que é um momento notável de media. O general diz que já fizeram as contas e que é preciso gastar — só em equipamento, note-se — qualquer coisa como 3500 milhões de euros por ano. Mas diz ele: isto num cenário de 2% em gastos de Defesa, que já foi ultrapassado. Não diz quanto é preciso gastar para atingir os 5% que o senhor Trump manda, mas as contas são fáceis: seriam 8800 milhões de euros… Mas atenção: por ano! E só em equipamento. Depois, em gastos com pessoal militar para operar esse equipamento, o general não diz, tenho de ser eu a estimar, mas diria que pelo menos mais uns 15.000 homens no mínimo, qualificados, e julgo que isso facilmente seriam mais uns mil milhões de euros por ano. Para o general isto são apenas números. O que são 10.000 milhões de euros por ano? O dinheiro terá de vir de algum lado. Eu já fiz as contas várias vezes nestas Cartas ao Director e repito: 5% do PIB que Trump nos quer impor, no caso português, são cerca de 15.000 milhões de euros todos os anos. É mais ou menos todo o IRS que é cobrado aos portugueses anualmente. E ninguém fala nisto? Ninguém pergunta isto aos candidatos a Presidente da República Portuguesa, Almirante incluído?

Fernando Vieira, Lisboa

Imigração em Portugal

Em coerência com as leis dos estrangeiros e da nacionalidade, acaba de ser aprovada pelo Governo a chamada lei do retorno. Não tendo nada contra a regularização da situação dos imigrantes em Portugal, facto que beneficia por igual aqueles e os nacionais, tenho fortes reservas sobre o espírito que parece nortear a ânsia legislativa em curso referente à imigração.

Um país que se respeita a si próprio deve caracterizar-se por tratar com dignidade os cidadãos que o procuram. Não é isso que Portugal está a fazer; é, pelo menos, o que transparece. O Governo publicita o seu modus operandi como sendo “humanista”; todavia, a legislação e a prática de diversos organismos do Estado permitem duvidar do espírito publicitado. E tal ocorre a diversos níveis: na sobranceria de tratamento, na complicação da regularização, nas limitações de mobilidade, na indução de medos, no comprometimento da vida familiar, nas dificuldades de acesso à nacionalidade portuguesa e na facilitação da expulsão.

O discurso do Governo, exprimindo o que pensa parte da população, revela não haver entre nós consciência da importância de Portugal se ter tornado um pólo de atracção. Não são muitos os países que podem orgulhar-se disso. Mas revela também, o que é particularmente grave, desconhecimento ou desprezo pela história da nossa emigração, uma história feita de “ilegalidades”, de humilhações e de estereótipos vários nos países de destino e no país de origem.

Luís Pardal, Lisboa

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